Todos ja perceberam que o Ipirados nao esta na ativa, isso desde 2014. Postagens recentes (na pagina do facebook) foram para testas algumas coisas. Agora a galera do ipirados agora esta com um novo projeto, uma nova pagina. Se voces quiserem curtam a nova pagina Orc Caolho.
Mononoke Hime, Princesa Mononoke em português, é um inesquecível filme dos lendários Studio Ghibli e Hayao Miyazaki lançado em 1997. Dito isso, não consigo me lembrar de quase nada a respeito dele. Decerto faz muito tempo que assisti, vejamos... 2010? Ah, mas o avaliei com uma nota alta no MyAnimeList, como não poderia deixar de ser, já que estamos falando daquela que é considera por muitos a obra-prima de Miyazaki. Vamos checar novamente, só por curiosidade.
Este post faz parte de uma tag coletiva sobre Mononoke Hime formada por blogs de anime/mangá, cujos links estarão ao final do post.
O filme se inicia com ação intensa envolvendo o protagonista, príncipe Ashitaka, lutando contra um javali-deus-demônio-tentacle-monster que está ameaçando seu vilarejo. No caso de o espectador ainda não ter percebido, a cena deixa bem claro que se trata de uma legítima animação do estúdio Ghibli, com fluidez e coreografia capazes de continuar impressionando por mais de 10 anos após seu lançamento. Contemple o poder de cerca de 23.5 milhões de dólares! E chore em agonia ao ver quase o dobro do valor resultar em um troço destes!
Ashitaka derrota o monstro, mas é infectado por um veneno místico e embarca em uma jornada às terras do oeste para tentar descobrir a cura. Antes de nosso herói partir, os anciões tomam um pequeno momento para resmungar sobre política e lamentar o terrível destino do líder em potencial. Ah, se apenas existisse uma maneira de não deixar uma das pessoas mais importantes para o vilarejo lutar sozinha contra uma criatura perigosa... quiçá colocando um guerreiro para vigiar as coisas ao invés de um idoso ou no mínimo alguém que consiga fazer algo mais produtivo do que ficar parado durante o perigo. Mas de modo algum há lapsos no roteiro, obviamente se trata de um comentário social brilhante. Direi qual é assim que descobrir.
Como um jovem nobre e valente, Ashitaka aceita seu fardo sem hesitação alguma e vai embora sem poder sequer se despedir da família. É neste momento que vemos o caráter forte do protagonista. Bem, ou isso, ou um indício de que ele tem a personalidade de um pedregulho, mas a possibilidade é remota. Em sua jornada, ele conhece um monge que lhe fala sobre um espírito poderoso que vive na floresta ao oeste. É nessas terras que reside Eboshi, responsável por liderar uma aldeia que acaba tendo diversos conflitos com a natureza para sustentar seu desenvolvimento, incluindo o responsável pela ira do deus javali. Trava também contínuas batalhas com uma tribo de lobos e San, a "princesa Mononoke", uma misteriosa garota humana criada por lobos.
Ashitaka inicialmente não vê com bons olhos os objetivos de Eboshi e as ações que ela está disposta a tomar para concretizá-los, mas opta por adiar seu julgamento. San ataca a aldeia para tentar tomar a vida de Eboshi... sozinha, por algum motivo. Acho seguro afirmar que meu cachorro tem uma noção rudimentar de que atacar centenas de pessoas portando armas de fogo não é a ideia mais engenhosa do mundo nem para uma missão suicida, então creio que ter sido criada por lobos não serve como desculpa, minha cara San. Novamente, estou certo de que isso deve fazer parte de uma decisão maior deliberada e não um pretexto para Ashitaka intervir com um discurso anti-ódio genérico e nocautear tanto Eboshi quanto San em um típico momento de herói shounen.
O aventureiro foge com San, que se mostra frustrada pela interrupção e tenta matá-lo. Consciente de que duas pessoas de mesma idade e sexo distintos em um filme devem formar um par romântico, Ashitaka se safa tirando da cartola o clássico "Você é linda" no meio de uma música melosa, fazendo a garota recuar envergonhada. Uma performance de dar inveja aos maiores mestres de dating sim. San decide ajudar Ashitaka levando-o ao mestre da floresta, o deus veado. Seus ferimentos são curados, mas a maldição continua a se alastrar pelo corpo. Ainda fraco pela manhã, Ashitaka é alimentado por San, que mastiga a carne por ele. Apelar aos meus fetiches é golpe baixo, Miyazaki, mas aprecio a consideração.
O monge de antes, Jiko, é revelado como um caçador enviado pelo imperador para matar o deus veado, em busca da suposta imortalidade concedida por sua cabeça. A tribo de javalis à qual pertencia o javali do início do filme ataca a aldeia, com San acompanhando, e Eboshi aproveita a deixa para acabar com o deus junto aos caçadores. Enquanto ela está fora, a aldeia é atacada, então Ashitaka, já curado, vai até ela avisar sobre o ocorrido e salvar San. Os caçadores enganam o líder dos javalis para que ele os leve até seu alvo e o transformam em um demônio porque... não sei, especulo que pela diversão de animar tentáculos.
Vários eventos se sucedem com um punhado de gente que eu não mencionei anteriormente por indolência e outro punhado que não menciono agora porque seus nomes já não me vêm à memória. Fim, ponto final, deixo o resto para quem quiser assistir. Explico: a menção de tentáculos invocou lembranças lúdicas que me distraíram durante o clímax. Durante o clímax do filme também.
Abaixem as tochas, minha gente, deixo claro que Mononoke Hime é um bom filme e eu realmente gostaria de poder dizer que adorei. Apesar de meio batido, o tema de humanos contra natureza é abordado com um teor elevado de maturidade e a história termina sem ter os conflitos concluídos por definitivo, deixando a cargo do espectador tirar suas próprias conclusões e inferindo que não existe uma solução ou perspectiva completamente correta.
Provavelmente meu maior problema é com Ashitaka. Entendo que o ponto de vista dele é necessário, caso contrário teríamos um foco completamente diferente, e ele está ali mais para contextualizar a situação e servir como uma ferramenta para avançar o roteiro do que se desenvolver como um personagem complexo. Acontece que, justamente por ser um vínculo entre o espectador e o universo do filme, tudo desaba se ele falha a convencer.
Não costumo me incomodar quando esse tipo de protagonista não tem desenvolvimento, mas apresenta alguma personalidade única ou simplesmente "fica na dele". Ashitaka, por outro lado, é o herói virtuoso e incorruptível que deseja felicidade a todos; em outras palavras, entediante. Há quem diga que os personagens podem ser interpretados como símbolos, até porque nenhum é muito desenvolvido ao longo do enredo, mas, ainda assim, Eboshi, San e outros são bem mais interessantes do que Ashitaka.
Do lado do enredo, há algumas decisões bastante arbitrárias e questões deixadas em aberto que parecem servir apenas para direcionar a trama aos caminhos desejados. A maioria, como o brilhante raciocínio por trás da invasão de San, até pode ser relevada, mas as coisas fogem ao controle rumo ao final. A transformação do javali líder em demônio não tem muita explicação ou propósito algum senão levar à morte de uma certa personagem, e nem isso tem muito impacto sobre o roteiro ou demais personagens. O "chefe final" faz menos sentido ainda, tendo sua existência justificada para fins dramáticos porque o filme precisa terminar com uma crise emocionante. Mas já não bastam os diversos conflitos entre humanos e animais, inclusive internos?
Apesar de ainda recomendar Mononoke Hime à maioria das pessoas, gostaria de deixar registrada minha opinião para contrapor a unanimidade e oferecer uma visão alternativa, além de me possibilitar fazer comentários tão hilários que matam vinte espíritos de floresta por desgosto ao planeta toda vez que que são publicados.
Prince of Tennis, quase um clássico dos animes de esporte, é uma adaptação animada pelo estúdio Trans Arts do mangá de Takeshi Konomi originalmente publicado na Shounen Jump. Neste post faço uma análise geral englobando as várias fases do anime (evitando spoilers, claro): a primeira série de 2001 a 2005; os OVAs de 2006 a 2009 que dão continuidade ao enredo; e a segunda série, New Prince of Tennis, lançada em 2012. Afinal, vale ou não a pena assistir os trocentos episódios que compõem esta saga?
Como de costume, vamos começar pela trama, mas calma que não vai demorar. Ryoma Echizen é um jovem prodígio que venceu vários torneios de nível infantil nos EUA, tendo o objetivo de tornar-se forte o bastante para sair da sombra de seu pai, o lendário tenista Nanjirou Echizen, e derrotá-lo. Regressando ao Japão, Ryoma junta-se ao time de Seishun Gakuen, uma das escolas mais fortes de tênis estudantil, onde tenta encontrar seu próprio estilo e levar seus companheiros à vitória no torneio nacional.
Ué, só isso? É, falei que não ia demorar. Não tem nada de complexo na história, são partidas e mais partidas com algumas sessões de treino e pitadas de drama e comédia no meio. O anime em particular tem uma dose considerável de material filler, coisas não inclusas no mangá, com episódios mais cômicos e voltados à vida cotidiana dos protagonistas, além de algumas alterações no enredo. Isso pode incomodar quem acompanha o mangá e quer ver as partidas animadas com o máximo de fidelidade possível, mas na maior parte do tempo as intervenções do anime são boas.
Quase toda partida segue a fórmula padrão: o herói pode até começar vencendo, mas logo o oponente revela uma arma secreta e o herói luta para conseguir derrotá-la, virando a mesa no último segundo. Dependendo do tamanho da partida, o ciclo se repete várias vezes, com direito a flashbacks e invenção de novas habilidades. Mesmo com esse esquema repetido até o fim dos tempos, a série geralmente consegue manter as coisas empolgantes, seja devido ao envolvimento com os personagens ou alguma novidade introduzida na partida.
Mas e o realismo? Um fã de tênis encontra algum valor em Prince of Tennis? Bem, não é o meu caso, então vou deixar que você julgue por conta própria. O que posso dizer é que o anime representa bem vários aspectos do espírito esportivo — rivalidade, companheirismo, determinação, ânsia de vitória, o desejo de melhorar continuamente, etc. —, independentemente de seu nível de compromisso com a realidade.
Exageros e feitos absurdos não são ruins por si sós, tratam-se apenas de ferramentas que um autor pode usar, bem ou mal. É gratificante ver um personagem usar um golpe novo, de preferência o mais chamativo e explosivo possível, que aprendeu para superar um obstáculo temível. Esse recurso costuma ser usado com frequência em mangás shounen (voltados ao público jovem masculino) para demonstrar crescimento e os resultados do trabalho duro, inclusive quando a temática é esportes.
Dito isso, nem tudo são flores...
O problema é quando os "níveis de luta" ficam tão fora de controle que passam a não fazer sentido nem no contexto da trama, quem dirá na vida real. Ou então quando a série passa a se resumir a despertar habilidades novas do nada, deixando todos os outros aspectos de lado. Infelizmente, os dois pecados costumam ser cometidos em obras longas, e Prince of Tennis não foge à regra.
As coisas começam razoáveis, com um equilíbrio saudável entre técnicas especiais, treinamento, táticas e desenvolvimento de personagens, além de feitos minimamente realistas e explicações coerentes. Só que os inimigos vão ficando cada vez mais fortes, então é preciso tirar novas habilidades de algum lugar, nem que seja da bunda. E é exatamente isso o que fazem os OVAs do anime, de longe o pior arco da saga.
Super-poderes dignos de Super Sayajin que surgem convenientemente e passam a ser o foco dos personagens ao invés de jogar tênis de verdade; técnicas absurdas sem vínculo algum à realidade que ninguém sequer tenta explicar; o que deveriam ser efeitos especiais cruzam as barreiras do metafórico e desafiam todas as leis da física e bom senso de uma hora para a outra. É muita bizarrice para ignorar, até desligando completamente o cérebro.
Parte da culpa é do anime mesmo. A primeira série não segue o mangá com total fidelidade, tomando várias liberdades aqui e ali, o que torna alguns fatos inconsistentes com os desenvolvimentos futuros. O pior deslize é uma mudança drástica de atitude que o anime causa em um certo personagem, mas como isso não acontece no mangá, o mesmo personagem volta durante os OVAs com a personalidade de sempre, causando bastante estranheza. Além disso, o último arco é adaptado de forma corrida demais, cortando coisas importantes. Mas os pontos anteriores ainda se aplicam ao mangá original, com maior ou menor intensidade.
E nem vou comentar sobre o filme, ele fala por si só. Principalmente a brilhante estreia de Tezuka como exterminador de dinossauros:
Mas nem tudo está perdido. New Prince of Tennis dá um fôlego revigorante à série, com um foco bem maior em treinos, aprimoramento de habilidades básicas e força mental. Vale ressaltar que essa é outra intervenção, muito bem-vinda na minha opinião, do anime; no mangá, não se gasta tanto tempo gasto em treinamento. Tanto é que o anime acaba pulando algumas partidas importantes, mas elas provavelmente serão inclusas nos próximos OVAs.
A qualidade de animação da primeira série não é nada excepcional na maior parte do tempo e sofreu os efeitos da obsolência ao longo dos anos. Mas é um anime longo, com mais de 100 episódios, então é compreensível que nem toda partida tenha movimentos fluidos de dar água nos olhos. Os OVAs e a segunda série são melhores nesse aspecto. Em todas as séries, a trilha sonora tem composições bem memoráveis, embora fiquem um pouco enjoativas depois de ouvidas várias vezes.
Prince of Tennis conta com um imenso elenco de personagens, a maioria sem muita profundidade além de alguns flashbacks e maneiras peculiares de falar ou agir, mas funcionam bem dentro da proposta. Você não precisa de dramas de novela mexicana para torcer por um personagem, rir com suas trapalhadas ou reconhecer seus méritos como atleta. Os protagonistas em particular têm um desenvolvimento satisfatório ao longo da história, mas os personagens auxiliares também brilham nos holofotes de tempos em tempos.
Se você está procurando algo relacionado a esportes, tem disposição para assistir séries longas e consegue perdoar os eventuais exageros, Prince of Tennis é uma boa pedida. Ah, ignore também os "personagens telepatas", marca de vários animes do gênero. Falo de quando, por exemplo, um atleta fala uma coisa em tom de voz normal ou baixo dentro da quadra e a audiência inteira ouve, e vice-versa. Sem contar os comentários relâmpagos feitos nos centésimos de segundos em que a bola permanece no ar. Enfim, doideiras de anime.
Praticamente todo mundo que já escreveu alguma coisa para a internet deve ter ouvido falar de um tal de SEO, métodos usados para posicionar melhor sua página nos motores de busca. As coisas chegaram ao ponto em que você simplesmente não pode se chamar de um escritor competente sem ter conhecimentos avançados e ferramentas profissionais, que é o que o cliente espera. Toda uma indústria de cursos, livros e ferramentas se estabeleceu em torno dessas três letrinhas, então é provável que eu irrite muita gente, mas digo mesmo assim: pare de ser obcecado por SEO.
Para evitar combater um exagero com outro, admito que existem bons princípios e métricas úteis em certas ferramentas de SEO que podem ser usadas para melhorar seu site ao visitante. Mas leia bem o que eu escrevi: melhorar seu site ao visitante, não a motores de busca. Investir em acessibilidade, diminuir o tempo de carregamento das páginas, escrever títulos relevantes às principais ideias do conteúdo, evitar grandes porções de conteúdo duplicado, etc. Nada disso tem a ver com motores de busca, é o básico do básico para criar um bom site ou blog.
E quanto a densidade de palavras-chaves, link building, análise de tendências e outros jargões técnicos, quer dizer que não funcionam? Podem funcionar, mas a questão não é essa. Se você sofre de insônia e por isso não é muito produtivo no trabalho, você pode se estufar de cafeína o dia todo e é provável que isso funcione. Não muda o fato de que seu problema principal continua; e se privação de sono sozinha já é perigosa, sua dieta hiperativa serve para diminuir mais ainda sua expectativa de vida.
Em suma: não são soluções sustentáveis. Basta o Google mudar seu algoritmo e lá vão os especialistas tentando descobrir como adaptar suas técnicas e explorar novos modos de manipular resultados, enquanto os sites dos clientes anteriores são abandonados às moscas pelo Google por usarem técnicas agora consideradas violações.
Se os algoritmos de busca mudam de tempos em tempos, como garantir que seu site vai se manter firme e forte? É simples, basta considerar o motivo para a mudança dos algoritmos, o que exatamente eles almejam: promover resultados relevantes e de qualidade ao visitante. Querem o que o visitante quer. Então volto à minha colocação original: se quer conquistar motores de busca, conquiste os visitantes. As únicas coisas que você precisa saber além disso estão aqui.
Antes de finalizar, vou considerar alguns dos possíveis contrapontos.
Não adianta escrever conteúdo de qualidade se ninguém lê, seu trouxa!
É verdade que demora para construir um site com um bom volume de tráfego, mas tem várias coisas naturais, sem manipular sistema nenhum, que você pode fazer. Utilize redes sociais, comente em outros blogs, publique textos em outros lugares, etc. Não faça isso se preocupando com link building ou vendo como tarefas enfadonhas para promover seu site/blog.
Siga blogs e páginas de Facebook interessantes, pesquise coisas relacionadas ao seu nicho, público ou mercado, participe de uma comunidade, enfim, faça coisas que te atraiam por si próprias. Se você não é do tipo que comenta muito ou cria imagens legais para postar no Facebook, então não finja ser, siga sua própria metodologia. Fora isso, continue escrevendo conteúdo de qualidade.
Na verdade o que você está descrevendo é black hat SEO, porque white hat...
É muito fácil criar monstros imaginários para redirecionar a culpa a entidades malvadas e sem ética. Se fosse para conseguir resultados naturalmente com o tempo, pessoas não contratariam gente especializada em SEO. O próprio conceito de SEO vai contra o que os motores de busca querem: eles promovem gente preocupada em produzir bom conteúdo para humanos, não quem gasta mais tempo estudando sistemas.
Mas os clientes exigem SEO, só estou seguindo as normas do mercado!
Ninguém está apontando uma arma na sua cabeça te obrigando a aceitar as normas do mercado, ou pelo menos assim espero. Você se diferencia dos demais sendo gabaritado em SEO (até a próxima atualização do Google)? Ótimo, mas pode muito bem se diferenciar dos demais sendo melhor, pura e simplesmente. Você pode não ter controle sobre o que as outras pessoas pensam, mas certamente não está ajudando ao se submeter a isso.
Mas eu tenho uma técnica 100% eficaz de colocar seu site no topo dos resultados que é aprovada pelo Google!
Originalmente publicado na Young Magazine por Nobuyuki Fukumoto, o mangá Kaiji teve duas adaptações para anime pelo estúdio Madhouse. Hoje vou falar sobre a primeira temporada, Gyakkyou Burai Kaiji: Ultimate Survivor, e por que vale a pena conferir este intenso drama humano.
Kaiji Itou leva uma vida medíocre como um vagabundo sem rumo, cometendo pequenos furtos de emblemas de carros como passatempo. Certo dia, ele é abordado por um homem, Yuuji Endou, a respeito de um empréstimo de 300 mil ienes feito por um antigo colega de trabalho e co-assinado por Kaiji. Como o devedor original desapareceu, a dívida vai para a outra pessoa envolvida no contrato. Se já não fosse uma situação ruim o bastante, os juros compostos abusivos fazem com que a dívida salte a 3 milhões e 850 mil ienes!
Endou propõe uma solução a Kaiji: ao invés de trabalhar por anos até pagar a dívida, ele pode liquidar tudo de uma vez e ainda ter a possibilidade de lucrar. Basta que ele participe de uma noite de apostas no navio Espoir. Claro, como nada vem de graça, os participantes podem tanto prosperar quanto afundar mais ainda em dívidas ou serem forçados a trabalho compulsório. Começa então a jornada de Kaiji no submundo das apostas...
Ao exemplo de séries como Death Note e Mirai Nikki, Kaiji é um thriller psicológico envolvendo batalhas mentais de vida ou morte entre personagens, com particular ênfase em conflitos que surgem dentro da mente dos próprios indivíduos. Cada novo passo em direção à vitória é incerto e sombrio, trazendo inevitáveis escolhas difíceis, principalmente para o protagonista.
Falando em protagonistas, Kaiji é uma figura fascinante que consegue carregar a série nas costas sozinho. Como qualquer pessoa normal, ele falha e entra em desespero, mas consegue reunir a determinação para ir em frente e fazer o que considera certo. Seu potencial desperta quando ele é submetido a desafios insanos, mas apesar de ser um gênio em encontrar saídas para qualquer situação, mostra-se incapaz de dar um jeito na própria vida.
A característica de destaque do protagonista é a mesma que o faz perder todas as oportunidades que surgem: ele destoa da mentalidade comum, acreditando firmemente em seus princípios. No dia-a-dia, isso se manifesta por sua incapacidade em aceitar submissão aos chefes e fingir ser alguém que não é, o que o faz buscar refúgio nos jogos, onde seus esforços são valorizados. Só que, ao mesmo tempo, seus ideais não suportam a escuridão desse universo que exige sacrifícios para vencer e cuja única lei é o dinheiro.
O anime não se limita aos aspectos psicológicos de Kaiji e outros personagens, usando o enredo como pano de fundo para analisar a sociedade. Ele traz várias reflexões provocantes, girando principalmente ao redor da relação das pessoas com dinheiro. O valor monetário de uma vida, o sacrifício dos outros necessário para o sucesso, os mecanismos de submissão do povo à elite, entre outros temas.
Os traços do autor são bem únicos e podem causar estranheza à primeira vista, com ângulos pronunciados e um design de personagens simples, caricatural. Ainda nos aspectos técnicos, a trilha sonora não desaponta, acrescentando à atmosfera de tensão que acompanha a maior parte da série.
Vale mencionar também o narrador, que cumpre uma função importante dentro do contexto do anime para aprofundar a percepção do espectador sobre os eventos. Mas apesar da excelente dublagem, a narração às vezes cai na armadilha de tentar bombardear o espectador com tensão e acada soando mais cômica do que qualquer outra coisa. Isso fica particularmente irritante quando o narrador decide que precisa ficar repetindo informações no caso de o espectador ter esquecido por algum motivo. É, eu sei que o cara vai perder um órgão se o plano dele falhar, ouvi perfeitamente bem nas primeiras mil vezes.
Apesar de falhas na narração e previsibilidade em certos acontecimentos (fica bem óbvio ao longo do anime que Kaiji sempre vai sobreviver e dar um jeito de entrar em mais uma situação de vida ou morte), Kaiji é uma excelente série recomendada a qualquer um, principalmente quem quer fugir um pouco do convencional e curte jogos mentais.
Neste ponto, pensei que nem precisaria mais comentar sobre a questão da "cura gay", oposta por boa parte da população... infelizmente, não pelos motivos certos. A crítica supérflua da mídia, incluindo a perpetuação do apelido "cura gay", permitiu que o deputado Marco Feliciano se aproveitasse das brechas causadas pelo entendimento superficial do assunto para tentar justificar o PDC 234/2011. Boas respostas ao vídeo já foram enviadas, mas, quanto maior for o esclarecimento, melhor.
No vídeo, Feliciano começa apontando a desonestidade intelectual da mídia ao colocar o projeto como "cura gay", simplificando o debate. Aliás, como o próprio Feliciano sugere, vamos manter algo em mente: desonestidade intelectual. Podemos considerar que se trata de uma distorção proposital de fatos ou argumentos de modo a facilitar a contra-argumentação. Exemplos são usar truques de retórica para tornar um argumento falho convincente, distorcer informações, e formar relações entre fatos sem ligação alguma.
Quer tentar adivinhar de onde eu peguei esses exemplos, aliás? Veremos...
Em algo todos podemos concordar: a intervenção da mídia na questão foi em grande parte mais prejudicial do que benéfica. Afinal, o que o PDC 234/2011 realmente propõe? Em primeiro lugar, visa eliminar o parágrafo único do artigo 3º da resolução 001/99 do Conselho Federal de Psicologia:
Parágrafo único - Os psicólogos não colaborarão com eventos e
serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades.
Logo, Feliciano conclui, o projeto não está propondo a cura gay, na verdade ele está querendo retirar a resolução que proíbe a cura gay, o que é totalmente diferente.
... Espera, o quê!?
Eu sei que lógica é difícil para algumas pessoas. Há quem tenha mais inclinação para as artes, para as humanidades e outros tópicos, mas espero que todos saibam que a negação da negação é uma afirmação. Se eu nego a sentença "Você não pode curar ou tratar a homossexualidade", a sentença resultante é, necessariamente, "Você pode curar ou tratar a homossexualidade". Ah, e existe um bom motivo para esse parágrafo estar aí: a homossexualidade não é uma doença, mas já foi considerada uma. Assim, foi importante esclarecer esse aspecto com a resolução e ainda é importante para evitar preconceitos.
Mas tudo bem, não vamos crucificar o cara por uma pequena falha de coerência, não é? Até porque ele se justifica logo em seguida: o parágrafo está proibindo o psicólogo de propor uma forma de tratamento da homossexualidade, o que é um absurdo, porque encerra o debate científico, impede as pessoas de estudarem por conta própria um fenômeno complexo e ainda em discussão...
Conseguiu perceber o artifício sutil e absolutamente desonesto dessa linha de raciocínio? O parágrafo trata especificamente de "eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades", mas nosso querido Feliciano ignora a parte do "eventos e serviços" para dar a entender que qualquer discussão e estudo sobre o assunto está proibido.
"Ah, mas isso pode ser interpretado de maneira errada", alguém pode dizer. Como assim interpretado de maneira errada? É só ler, gente, não tem nada de ambíguo aí. Não tem como confundir ausência de eventos e serviços com ausência de discussão no âmbito científico, ausência de artigos, palestras acadêmicas ou o que for. Aliás, outra coisa para se gravar: "discussão no âmbito científico".
E não me diga que você vai repetir pela milésima vez o argumento batido e completamente equivocado de que não existe gene gay, portanto, ninguém nasce gay? Poxa, Feliciano, pensei que você estivesse um pouco (mas nem tanto) acima disso. Bem, vou apenas deixar este texto aqui. Agora precisamos voltar à discussão que nos interessa no momento.
O próximo ponto do PDC 234/2011 é o artigo 4º:
Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica.
Novamente, Feliciano afirma que é um absurdo limitar os profissionais dessa maneira, apela ao direito de expressão e comete o exato mesmo deslize ao associar a ausência de pronunciamentos públicos com ausência total de pronunciamento. É bom aproveitarmos para fazer uma breve revisão de como a ciência funciona.
Tudo na ciência segue o método científico, que consiste (resumindo e simplificando ao máximo) em observações, formulação de hipóteses a partir das observações, elaborações de teorias a partir da validação e sistematização das hipóteses, e novas observações. Mas só isso não basta; afinal, quem diz o que é válido/científico e o que não é? Aí entra a revisão por pares (peer review), um dos principais mecanismos de autorregulação da ciência. Após todo esse processo, tem-se uma teoria científica bem consolidada, mas que sempre pode ser contestada no futuro.
Só as teorias bem consolidadas vão ao público; antes disso, elas ainda estão em debate, mas no âmbito científico. Se você alguma vez já se perguntou por que um professor/pesquisador não ensina aos alunos suas próprias teorias, aí vai o principal motivo. Também explica por que certas coisas, sejam elas fáceis ou difíceis de entender, você só encontra fuçando materiais de referência para sua tese de doutorado e não em um livro didático.
Finalmente, com tudo isso considerado, entendemos o real problema por trás do projeto: simplesmente não existe nenhum tratamento para a homossexualidade que funcione e seja devidamente documentado e verificado. Sugerir que um profissional possa divulgar e disponibilizar ao público sua própria cura miraculosa é uma irresponsabilidade tremenda e total negligência ao método científico. O assunto pode e deve ser discutido, mas em âmbito científico.
Que tal uma analogia com uma doença (obviamente lembrando que homossexualidade não é uma doença, é apenas uma comparação)?
Você é à favor da cura universal do câncer? Creio que sim; ao menos, as pessoas devem ter o direito de receber a cura. Mas imagine que as únicas pessoas que alegam isso são médicos ou curandeiros que divulgaram evidências anedóticas de seus tratamentos em livros ou artigos pouco confiáveis. Mais ainda: após investigações, constata-se que os métodos propostos não só não funcionam como podem piorar o quadro do paciente. E aí, você acha que o Conselho Federal de Medicina é malvado e tirânico por impedir que médicos apliquem tal tratamento? Os profissionais devem ter o direito de arriscar a vida de seus pacientes com procedimentos duvidosos?
Não é a minha opinião, a opinião do Marco Feliciano ou a opinião de ninguém que dá ou tira credibilidade de uma teoria científica; é a própria ciência, através do método científico. Se a ciência atesta contra a existência de um tratamento efetivo da homossexualidade, então por que raios a decisão de um grupo de políticos ou mesmo da opinião popular deve se sobrepor a isso?
E, por último: a resolução do Conselho Federal de Psicologia se aplica a... adivinha quem? Isso mesmo, psicólogos. Você pode oferecer tratamento da homossexualidade como serviço religioso, esotérico ou o que quer que seja, mas não como psicólogo. O que um psicólogo deve fazer é realizar um aconselhamento psicológico visando a adequação da pessoa à sociedade, independentemente de gênero, raça ou orientação sexual. A homossexualidade não é o problema e, se for, não há solução, assim como o fato de você pertencer a uma minoria étnica oprimida.
Fiquem com alguns bons vídeos relevantes ao assunto (devo ir acrescentando mais com o tempo):
Você, que está borbulhando de insatisfação e quer mudanças já, que não tolera mais políticos indolentes e manipuladores, que está farto da demagogia e precisa de melhorias concretas, que tal uma pequena conversa? Não peço muito; 5 minutos no máximo. Não quero que você faça ou deixe de fazer nada, apenas pare para refletir.
Estamos de acordo? Ótimo. Em primeiro lugar, saiba quem é seu inimigo. Seu inimigo é toda uma conjuntura que vem sendo instaurada no país desde décadas e séculos atrás. De forma ampla, uma democracia distorcida e com pouca participação efetiva do povo causa boa parte das anomalias que vemos hoje no cenário político (saiba mais neste excelente vídeo), bem como diversos problemas históricos.
Para resolver os problemas de forma realmente profunda, não há dúvidas de que precisamos de uma reforma política. E não é a derrubada do chefe do poder Executivo ou a destruição geral do sistema que vai promover isso, mas sim reivindicações mais do que urgentes visando costurar alguns graves furos na nossa democracia: impedimento das PECs 33 e 37, retirada de políticos como Renan Calheiros de seus postos, maior transparência e participatividade do povo no poder Legislativo etc.
Falando em poderes, se tiver um tempo, peço que leia a Constituição ou faça sua própria pesquisa para conhecer as atribuições de cada poder. As coisas evoluíram consideravelmente desde os primeiros regimes de governo. Não existe mais uma pessoa que manda em tudo e consegue fazer o que quer, então saiba para onde direcionar suas críticas.
Vamos ao segundo ponto agora. Você sabe quem o está representando, quem vai levar suas reivindicações aos políticos? Se você acha que não precisa de ninguém para representá-lo, então como espera dialogar? Não considera inviável que o governo chame todos os milhares de manifestantes para anunciarem seus pleitos um a um?
Querendo ou não, por bem ou por mal, alguém precisa se manifestar. E se não houver um processo democrático para decidir uma pauta comum e representantes, não há garantia alguma de que as causas importantes sejam consideradas. Se isso acontecer, a quem você pretende reclamar? Sei que deve estar impaciente e quer as coisas resolvidas imediatamente, mas nada é resolvido sem planejamento e organização.
Será que este recente exemplo é um bom método de ação? Entre os 30 mil manifestantes, pelo menos metade (sendo bem otimista) sequer ouviu falar de uma pauta sendo elaborada na hora. O grupo que se reuniu com o diretor-geral da Câmara deixou bem claro que não representa todos. Por mais que as reivindicações dessa vez tenham sido justas e apoiadas pela maioria, você acha razoável que só alguns enviem sua própria pauta enquanto os demais se limitam a fazer o papel de chamar atenção? Claro, não estou criticando o grupo, que tomou uma boa decisão. Na falta de uma representação, é realmente cada um por si.
Bem, era basicamente isso. Tire suas próprias conclusões.
Acompanhando a repercussão dos protestos, que se expandiu para além de São Paulo, não pude deixar de notar um bom volume de desinformação e preconceito. É importante que formadores de opinião na web em geral, blogueiros, vlogueiros etc., não apenas se tomando posicionem como esclareçam esses aspectos, porque depender da mídia tradicional não dá mais... Ainda assim, há algumas críticas que dão o que pensar e vale a pena refletir sobre os rumos que podemos ou poderíamos estar sem perceber.
O Movimento Passe Livre em si
Vamos começar pelo elefante na sala. Não podemos nos esquecer que o núcleo original das manifestações é proveniente de um movimento reivindicando a anulação completa da cobrança no transporte público. Seria isso viável, ou mesmo desejável? Naturalmente, se forem feitos estudos de viabilidade aprofundados e concluir-se que é possível anular a cobrança de usuários, operando apenas com impostos, sem que isso prejudique (mais ainda) a qualidade do transporte, acho que todos seriam a favor.
Um ex-secretário do Transporte, Lúcio Gregori, afirmou categoricamente que "a tarifa zero independe do tamanho da cidade", o que responde à crítica de que isso só é possível em cidades menores. Adicionalmente, há bons motivos econômicos, sociais e ambientais para crer que a medida pode beneficiar o país, entre eles a viabilidade de maior atividade econômica devido ao fluxo maior de passageiros e diminuição de poluição.
Concordamos então que a tarifa zero pode funcionar, mas não há uma alternativa que traga boa parte dos mesmos benefícios e com maior possibilidade de dar certo sem inflar os custos operacionais? Ora, aumentando a qualidade do transporte público. Costuma-se dizer que o Brasil é um país com muitos impostos, preços muito abusivos, mas o problema não é o preço: apenas não recebemos o que deveríamos em troca.
Um bom transporte público incentiva pessoas a optarem por ele, assim diminuindo a poluição causada por automóveis. Se pudermos atingir esse nível com tarifa zero, ótimo, mas não é a nossa realidade agora. A nossa realidade é de um transporte público pouco eficiente que mal suporta o volume atual de usuários. Parece-me pouco desejável reivindicar a anulação de cobrança do usuário... por enquanto, pelo menos. E se não for possível receber os serviços correspondentes ao preço, então que diminua o preço.
Como pressionar a máquina estatal?
Deixando as reivindicações de lado por enquanto, como garantir que o governo vai aceitá-las em primeiro lugar? Quem garante que os políticos não vão aumentar a pressão e deixar o povo em uma situação ainda pior? Ou, quem sabe, formular uma trégua provisória e fingir estar atendendo aos pedidos enquanto apenas enrolam as pessoas?
O único tipo de regime em que os políticos podem ter como plano de ação oprimir os cidadãos e tentar contornar a situação por conta própria são os regimes totalitários, ditatoriais. E a Primavera Árabe está aí para nos mostrar que mesmo esses governos tirânicos podem ser derrubados, então por que no Brasil seria mais difícil? Na democracia, é o governo que deve temer o povo, e não o contrário. Aliás, sabem o que aconteceu da última vez em que tantas pessoas se manifestaram no Brasil? Um presidente sofreu impeachment. Essa é a força do povo, não a subestime.
Contudo, as várias reclamações dos manifestantes vão muito além de transporte público, exigindo uma profunda reforma no país. Este pode ser um momento histórico importantíssimo no Brasil. Será que não vamos precisar de mais do que algumas passeatas para sermos plenamente atendidos? De fato, e aí entra outra fonte fundamental de protestos: a Copa do Mundo.
Seguindo o exemplo de Gandhi, há quem aposte no boicote como arma de protesto. Não gastaremos um centavo com o evento bilionário que usurpou recursos preciosos pertencentes a setores críticos do país e tentaremos impedir outras pessoas de fazê-lo. Por que só agora? Muito simples: para chamar a atenção do resto do mundo ao fato de que o Brasil não é só o país do futebol, nem a super potência econômica com crescimento acelerado propagada por aí. Temos dinheiro para suportar a Copa? Sim, o que não temos é o luxo de gastá-lo sob promessas vagas de empregabilidade (em grande parte temporária) e turismo.
Cadê o líder?
Em praticamente todas as revoluções até agora, sempre houve indivíduos ou grupos de destaque, com suas boas ideias, carisma e vontade de mudar as coisas. Pode-se argumentar que a falta de articulação apropriada dos protestos deve-se à falta de líderes, o que até pode ser verdade, mas de maneira alguma isso impede ou minimiza a ação.
Por que não podemos romper com paradigmas? Por que precisamos seguir alguém e assumir que suas ideias são superiores, glorificando-as em um coro unificado? Por que não podemos usar o poder da democracia e gerar ideias coletivamente, movimentos distintos com um bem comum, atuar em várias frentes? Pois é, novamente, a Primavera Árabe respondeu a todas essas perguntas com um retumbante grito de "Dane-se, cansamos de esperar por heróis".
O poder de comunicação proporcionado pela internet, sobretudo através das redes sociais, é tão grande que chega a formar um complexo organismo com vida própria. Usando seus tentáculos, a criatura é capaz de atacar de maneira sincronizada e muito mais eficiente do que um organismo simples ou um mero aglomerado de organismos. Qual é a natureza dessa criatura, o que ela está pensando? Ninguém sabe dizer, sua única intenção é destruir as barreiras que a cercam.
PS: Não estou dizendo que pleitos bem definidos não são necessários, por favor. Precisa haver articulação, o que não precisamos é de um super-herói.
E a polícia?
Mas e quanto ao vandalismo, devemos tolerá-lo? Já fiz um post discutindo isso, então vou resumir: não. Contudo, isso não valida, de forma alguma, a truculência de policiais contra manifestantes pacíficos e até mesmo pessoas que não têm nada a ver. Tratam-se de eventos isolados de grupos específicos e devem ser tratados como tal: ocorrências localizadas. Se um imbecil joga uma bomba contra os policiais, então prenda esse imbecil, não comece uma guerra desnecessária contra os demais. Não são uns poucos transgressores que vão invalidar o movimento inteiro.
Alguns bons links
A vontade louca de ver o Brasil se fuder cada vez mais - Post refutando alguns argumentos comuns que costumam surgir. O Sky me poupou um bom trabalho, porque eu me sentiria na obrigação de fazer esse post se já não estivesse escrito xD
A Polícia Está Errada! - Vídeo expondo o porquê de as ações violentas da polícia nos confrontos não serem justificáveis.
Acredito que a série de protestos contra o aumento da passagem em São Paulo já seja de conhecimento comum, então vou pular direto ao que interessa: a controversa questão da depredação do patrimônio público e outros excessos de alguns protestantes. Mais especificamente, quero falar sobre argumentos comuns em favor de tolerar ou incentivar essas atitudes que costumam aparecer nos debates...
Antes de qualquer coisa, é importante demarcar as fronteiras entre os méritos individuais e coletivos. O Movimento Passe Livre, como um todo, não apoia atos de vandalismo ou violência em suas manifestações. O que estou discutindo aqui não é a legitimidade do movimento, mas sim os casos isolados de transgressões. Seriam eles benéficos, prejudiciais ou sem importância alguma ao movimento?
Um modo de legitimar o vandalismo é compará-los às grandes revoluções ocorridas, que seriam impossíveis sem uma dose acentuada de "baderna". De fato, as duas publicações de Facebook abaixo tentam invalidar os contra-argumentos e a representação negativa por parte da mídia através da ironia, aplicando-os a contextos distintos com resultados absurdos:
E é justamente por estarmos tratando de contextos tão distintos que a comparação não faz sentido algum. Uma coisa são, como ressaltado anteriormente, atos isolados dentro de um movimento com objetivos específicos e que não exige uma reforma radical no sistema pela destruição da ordem estabelecida (não estou contestando que as manifestações podem desencadear consequências mais profundas, mas a princípio não há reivindicações exigindo a quebra total do status quo como a substituição de um sistema político).
Outra coisa completamente diferente é a insurreição de um povo diante de uma situação insustentável em que não há nada ou muito pouco a se perder, e portanto disposto a sacrificar qualquer coisa em prol de uma estrutura política alternativa através de atos sistemáticos de transgressão e desobediência civil. Há um salto conceitual considerável ao comparar a situação em São Paulo a essas só para justificar uns poucos casos de excesso.
Aliás, quem são os tais baderneiros? Ficamos discutindo sua atuação por alto, elogiando-os como heróis ou criticando-os como bandidos, mas sequer sabemos o que se passa na cabeça deles? Eu não sei. Só sei que muita pouca gente pode dizer que tem uma vida boa, sem problema nenhum, mas querer impor seus problemas como tendo prioridade acima de todo o resto, com total desprezo às outras pessoas, não me parece correto. As consequências desse tipo de pensamento? Veja por si mesmo e tire suas conclusões.
Descontroles podem ser inevitáveis e a força da causa pode superar os efeitos colaterais, mas não há motivos para tolerar comportamentos destrutivos sem propósito que ameaçam a segurança e necessidade de outros indivíduos ou do coletivo. É plenamente possível apoiar as manifestações sem precisar apelar a justificativas esdrúxulas a atos injustificáveis.