26 de fevereiro de 2014

Prince of Tennis - Resenha

Imagem ilustrativa do anime Prince of Tennis

Prince of Tennis, quase um clássico dos animes de esporte, é uma adaptação animada pelo estúdio Trans Arts do mangá de Takeshi Konomi originalmente publicado na Shounen Jump. Neste post faço uma análise geral englobando as várias fases do anime (evitando spoilers, claro): a primeira série de 2001 a 2005; os OVAs de 2006 a 2009 que dão continuidade ao enredo; e a segunda série, New Prince of Tennis, lançada em 2012. Afinal, vale ou não a pena assistir os trocentos episódios que compõem esta saga?

Como de costume, vamos começar pela trama, mas calma que não vai demorar. Ryoma Echizen é um jovem prodígio que venceu vários torneios de nível infantil nos EUA, tendo o objetivo de tornar-se forte o bastante para sair da sombra de seu pai, o lendário tenista Nanjirou Echizen, e derrotá-lo. Regressando ao Japão, Ryoma junta-se ao time de Seishun Gakuen, uma das escolas mais fortes de tênis estudantil, onde tenta encontrar seu próprio estilo e levar seus companheiros à vitória no torneio nacional.

Ué, só isso? É, falei que não ia demorar. Não tem nada de complexo na história, são partidas e mais partidas com algumas sessões de treino e pitadas de drama e comédia no meio. O anime em particular tem uma dose considerável de material filler, coisas não inclusas no mangá, com episódios mais cômicos e voltados à vida cotidiana dos protagonistas, além de algumas alterações no enredo. Isso pode incomodar quem acompanha o mangá e quer ver as partidas animadas com o máximo de fidelidade possível, mas na maior parte do tempo as intervenções do anime são boas.

Quase toda partida segue a fórmula padrão: o herói pode até começar vencendo, mas logo o oponente revela uma arma secreta e o herói luta para conseguir derrotá-la, virando a mesa no último segundo. Dependendo do tamanho da partida, o ciclo se repete várias vezes, com direito a flashbacks e invenção de novas habilidades. Mesmo com esse esquema repetido até o fim dos tempos, a série geralmente consegue manter as coisas empolgantes, seja devido ao envolvimento com os personagens ou alguma novidade introduzida na partida.

Mas e o realismo? Um fã de tênis encontra algum valor em Prince of Tennis? Bem, não é o meu caso, então vou deixar que você julgue por conta própria. O que posso dizer é que o anime representa bem vários aspectos do espírito esportivo — rivalidade, companheirismo, determinação, ânsia de vitória, o desejo de melhorar continuamente, etc. —, independentemente de seu nível de compromisso com a realidade.

Exageros e feitos absurdos não são ruins por si sós, tratam-se apenas de ferramentas que um autor pode usar, bem ou mal. É gratificante ver um personagem usar um golpe novo, de preferência o mais chamativo e explosivo possível, que aprendeu para superar um obstáculo temível. Esse recurso costuma ser usado com frequência em mangás shounen (voltados ao público jovem masculino) para demonstrar crescimento e os resultados do trabalho duro, inclusive quando a temática é esportes.

Dito isso, nem tudo são flores...

O problema é quando os "níveis de luta" ficam tão fora de controle que passam a não fazer sentido nem no contexto da trama, quem dirá na vida real. Ou então quando a série passa a se resumir a despertar habilidades novas do nada, deixando todos os outros aspectos de lado. Infelizmente, os dois pecados costumam ser cometidos em obras longas, e Prince of Tennis não foge à regra.

As coisas começam razoáveis, com um equilíbrio saudável entre técnicas especiais, treinamento, táticas e desenvolvimento de personagens, além de feitos minimamente realistas e explicações coerentes. Só que os inimigos vão ficando cada vez mais fortes, então é preciso tirar novas habilidades de algum lugar, nem que seja da bunda. E é exatamente isso o que fazem os OVAs do anime, de longe o pior arco da saga.

Super-poderes dignos de Super Sayajin que surgem convenientemente e passam a ser o foco dos personagens ao invés de jogar tênis de verdade; técnicas absurdas sem vínculo algum à realidade que ninguém sequer tenta explicar; o que deveriam ser efeitos especiais cruzam as barreiras do metafórico e desafiam todas as leis da física e bom senso de uma hora para a outra. É muita bizarrice para ignorar, até desligando completamente o cérebro.

Parte da culpa é do anime mesmo. A primeira série não segue o mangá com total fidelidade, tomando várias liberdades aqui e ali, o que torna alguns fatos inconsistentes com os desenvolvimentos futuros. O pior deslize é uma mudança drástica de atitude que o anime causa em um certo personagem, mas como isso não acontece no mangá, o mesmo personagem volta durante os OVAs com a personalidade de sempre, causando bastante estranheza. Além disso, o último arco é adaptado de forma corrida demais, cortando coisas importantes. Mas os pontos anteriores ainda se aplicam ao mangá original, com maior ou menor intensidade.

E nem vou comentar sobre o filme, ele fala por si só. Principalmente a brilhante estreia de Tezuka como exterminador de dinossauros:


Mas nem tudo está perdido. New Prince of Tennis dá um fôlego revigorante à série, com um foco bem maior em treinos, aprimoramento de habilidades básicas e força mental. Vale ressaltar que essa é outra intervenção, muito bem-vinda na minha opinião, do anime; no mangá, não se gasta tanto tempo gasto em treinamento. Tanto é que o anime acaba pulando algumas partidas importantes, mas elas provavelmente serão inclusas nos próximos OVAs.

A qualidade de animação da primeira série não é nada excepcional na maior parte do tempo e sofreu os efeitos da obsolência ao longo dos anos. Mas é um anime longo, com mais de 100 episódios, então é compreensível que nem toda partida tenha movimentos fluidos de dar água nos olhos. Os OVAs e a segunda série são melhores nesse aspecto. Em todas as séries, a trilha sonora tem composições bem memoráveis, embora fiquem um pouco enjoativas depois de ouvidas várias vezes.

Prince of Tennis conta com um imenso elenco de personagens, a maioria sem muita profundidade além de alguns flashbacks e maneiras peculiares de falar ou agir, mas funcionam bem dentro da proposta. Você não precisa de dramas de novela mexicana para torcer por um personagem, rir com suas trapalhadas ou reconhecer seus méritos como atleta. Os protagonistas em particular têm um desenvolvimento satisfatório ao longo da história, mas os personagens auxiliares também brilham nos holofotes de tempos em tempos.

Se você está procurando algo relacionado a esportes, tem disposição para assistir séries longas e consegue perdoar os eventuais exageros, Prince of Tennis é uma boa pedida. Ah, ignore também os "personagens telepatas", marca de vários animes do gênero. Falo de quando, por exemplo, um atleta fala uma coisa em tom de voz normal ou baixo dentro da quadra e a audiência inteira ouve, e vice-versa. Sem contar os comentários relâmpagos feitos nos centésimos de segundos em que a bola permanece no ar. Enfim, doideiras de anime.

2 comentários:

  1. Eu adoro animes de esporte , eu sei que são exagerados ás vezes como vc mesmo disse, mas eu gosto mesmo assim! não conhecia este e gostei da dica!

    Bjs

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    1. Obrigado pelo comentário. É bom saber, porque a próxima resenha também deve ser de um anime de esporte, fiquei meio obcecado pelo gênero recentemente (ou é vontade de sofrer com outro anime de mais de 100 episódios mesmo).

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