14 de junho de 2013

Até onde pode ir uma causa?

Acredito que a série de protestos contra o aumento da passagem em São Paulo já seja de conhecimento comum, então vou pular direto ao que interessa: a controversa questão da depredação do patrimônio público e outros excessos de alguns protestantes. Mais especificamente, quero falar sobre argumentos comuns em favor de tolerar ou incentivar essas atitudes que costumam aparecer nos debates...

Antes de qualquer coisa, é importante demarcar as fronteiras entre os méritos individuais e coletivos. O Movimento Passe Livre, como um todo, não apoia atos de vandalismo ou violência em suas manifestações. O que estou discutindo aqui não é a legitimidade do movimento, mas sim os casos isolados de transgressões. Seriam eles benéficos, prejudiciais ou sem importância alguma ao movimento?

Um modo de legitimar o vandalismo é compará-los às grandes revoluções ocorridas, que seriam impossíveis sem uma dose acentuada de "baderna". De fato, as duas publicações de Facebook abaixo tentam invalidar os contra-argumentos e a representação negativa por parte da mídia através da ironia, aplicando-os a contextos distintos com resultados absurdos:

Protestos na Turquia = protestos em São Paulo?
Fonte.
Revolução Francesa = "revolução" em São Paulo?
Fonte.

E é justamente por estarmos tratando de contextos tão distintos que a comparação não faz sentido algum. Uma coisa são, como ressaltado anteriormente, atos isolados dentro de um movimento com objetivos específicos e que não exige uma reforma radical no sistema pela destruição da ordem estabelecida (não estou contestando que as manifestações podem desencadear consequências mais profundas, mas a princípio não há reivindicações exigindo a quebra total do status quo como a substituição de um sistema político).

Outra coisa completamente diferente é a insurreição de um povo diante de uma situação insustentável em que não há nada ou muito pouco a se perder, e portanto disposto a sacrificar qualquer coisa em prol de uma estrutura política alternativa através de atos sistemáticos de transgressão e desobediência civil. Há um salto conceitual considerável ao comparar a situação em São Paulo a essas só para justificar uns poucos casos de excesso.

Aliás, quem são os tais baderneiros? Ficamos discutindo sua atuação por alto, elogiando-os como heróis ou criticando-os como bandidos, mas sequer sabemos o que se passa na cabeça deles? Eu não sei. Só sei que muita pouca gente pode dizer que tem uma vida boa, sem problema nenhum, mas querer impor seus problemas como tendo prioridade acima de todo o resto, com total desprezo às outras pessoas, não me parece correto. As consequências desse tipo de pensamento? Veja por si mesmo e tire suas conclusões.

Descontroles podem ser inevitáveis e a força da causa pode superar os efeitos colaterais, mas não há motivos para tolerar comportamentos destrutivos sem propósito que ameaçam a segurança e necessidade de outros indivíduos ou do coletivo. É plenamente possível apoiar as manifestações sem precisar apelar a justificativas esdrúxulas a atos injustificáveis.

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