25 de abril de 2014

Mononoke Hime (#Chá com blog versão otaku)


Mononoke Hime, Princesa Mononoke em português, é um inesquecível filme dos lendários Studio Ghibli e Hayao Miyazaki lançado em 1997. Dito isso, não consigo me lembrar de quase nada a respeito dele. Decerto faz muito tempo que assisti, vejamos... 2010? Ah, mas o avaliei com uma nota alta no MyAnimeList, como não poderia deixar de ser, já que estamos falando daquela que é considera por muitos a obra-prima de Miyazaki. Vamos checar novamente, só por curiosidade.

Este post faz parte de uma tag coletiva sobre Mononoke Hime formada por blogs de anime/mangá, cujos links estarão ao final do post.

O filme se inicia com ação intensa envolvendo o protagonista, príncipe Ashitaka, lutando contra um javali-deus-demônio-tentacle-monster que está ameaçando seu vilarejo. No caso de o espectador ainda não ter percebido, a cena deixa bem claro que se trata de uma legítima animação do estúdio Ghibli, com fluidez e coreografia capazes de continuar impressionando por mais de 10 anos após seu lançamento. Contemple o poder de cerca de 23.5 milhões de dólares! E chore em agonia ao ver quase o dobro do valor resultar em um troço destes!

Ashitaka derrota o monstro, mas é infectado por um veneno místico e embarca em uma jornada às terras do oeste para tentar descobrir a cura. Antes de nosso herói partir, os anciões tomam um pequeno momento para resmungar sobre política e lamentar o terrível destino do líder em potencial. Ah, se apenas existisse uma maneira de não deixar uma das pessoas mais importantes para o vilarejo lutar sozinha contra uma criatura perigosa... quiçá colocando um guerreiro para vigiar as coisas ao invés de um idoso ou no mínimo alguém que consiga fazer algo mais produtivo do que ficar parado durante o perigo. Mas de modo algum há lapsos no roteiro, obviamente se trata de um comentário social brilhante. Direi qual é assim que descobrir.

Como um jovem nobre e valente, Ashitaka aceita seu fardo sem hesitação alguma e vai embora sem poder sequer se despedir da família. É neste momento que vemos o caráter forte do protagonista. Bem, ou isso, ou um indício de que ele tem a personalidade de um pedregulho, mas a possibilidade é remota. Em sua jornada, ele conhece um monge que lhe fala sobre um espírito poderoso que vive na floresta ao oeste. É nessas terras que reside Eboshi, responsável por liderar uma aldeia que acaba tendo diversos conflitos com a natureza para sustentar seu desenvolvimento, incluindo o responsável pela ira do deus javali. Trava também contínuas batalhas com uma tribo de lobos e San, a "princesa Mononoke", uma misteriosa garota humana criada por lobos.

Ashitaka inicialmente não vê com bons olhos os objetivos de Eboshi e as ações que ela está disposta a tomar para concretizá-los, mas opta por adiar seu julgamento. San ataca a aldeia para tentar tomar a vida de Eboshi... sozinha, por algum motivo. Acho seguro afirmar que meu cachorro tem uma noção rudimentar de que atacar centenas de pessoas portando armas de fogo não é a ideia mais engenhosa do mundo nem para uma missão suicida, então creio que ter sido criada por lobos não serve como desculpa, minha cara San. Novamente, estou certo de que isso deve fazer parte de uma decisão maior deliberada e não um pretexto para Ashitaka intervir com um discurso anti-ódio genérico e nocautear tanto Eboshi quanto San em um típico momento de herói shounen.

O aventureiro foge com San, que se mostra frustrada pela interrupção e tenta matá-lo. Consciente de que duas pessoas de mesma idade e sexo distintos em um filme devem formar um par romântico, Ashitaka se safa tirando da cartola o clássico "Você é linda" no meio de uma música melosa, fazendo a garota recuar envergonhada. Uma performance de dar inveja aos maiores mestres de dating sim. San decide ajudar Ashitaka levando-o ao mestre da floresta, o deus veado. Seus ferimentos são curados, mas a maldição continua a se alastrar pelo corpo. Ainda fraco pela manhã, Ashitaka é alimentado por San, que mastiga a carne por ele. Apelar aos meus fetiches é golpe baixo, Miyazaki, mas aprecio a consideração.

O monge de antes, Jiko, é revelado como um caçador enviado pelo imperador para matar o deus veado, em busca da suposta imortalidade concedida por sua cabeça. A tribo de javalis à qual pertencia o javali do início do filme ataca a aldeia, com San acompanhando, e Eboshi aproveita a deixa para acabar com o deus junto aos caçadores. Enquanto ela está fora, a aldeia é atacada, então Ashitaka, já curado, vai até ela avisar sobre o ocorrido e salvar San. Os caçadores enganam o líder dos javalis para que ele os leve até seu alvo e o transformam em um demônio porque... não sei, especulo que pela diversão de animar tentáculos.

Vários eventos se sucedem com um punhado de gente que eu não mencionei anteriormente por indolência e outro punhado que não menciono agora porque seus nomes já não me vêm à memória. Fim, ponto final, deixo o resto para quem quiser assistir. Explico: a menção de tentáculos invocou lembranças lúdicas que me distraíram durante o clímax. Durante o clímax do filme também.

Abaixem as tochas, minha gente, deixo claro que Mononoke Hime é um bom filme e eu realmente gostaria de poder dizer que adorei. Apesar de meio batido, o tema de humanos contra natureza é abordado com um teor elevado de maturidade e a história termina sem ter os conflitos concluídos por definitivo, deixando a cargo do espectador tirar suas próprias conclusões e inferindo que não existe uma solução ou perspectiva completamente correta.

Provavelmente meu maior problema é com Ashitaka. Entendo que o ponto de vista dele é necessário, caso contrário teríamos um foco completamente diferente, e ele está ali mais para contextualizar a situação e servir como uma ferramenta para avançar o roteiro do que se desenvolver como um personagem complexo. Acontece que, justamente por ser um vínculo entre o espectador e o universo do filme, tudo desaba se ele falha a convencer.

Não costumo me incomodar quando esse tipo de protagonista não tem desenvolvimento, mas apresenta alguma personalidade única ou simplesmente "fica na dele". Ashitaka, por outro lado, é o herói virtuoso e incorruptível que deseja felicidade a todos; em outras palavras, entediante. Há quem diga que os personagens podem ser interpretados como símbolos, até porque nenhum é muito desenvolvido ao longo do enredo, mas, ainda assim, Eboshi, San e outros são bem mais interessantes do que Ashitaka.

Do lado do enredo, há algumas decisões bastante arbitrárias e questões deixadas em aberto que parecem servir apenas para direcionar a trama aos caminhos desejados. A maioria, como o brilhante raciocínio por trás da invasão de San, até pode ser relevada, mas as coisas fogem ao controle rumo ao final. A transformação do javali líder em demônio não tem muita explicação ou propósito algum senão levar à morte de uma certa personagem, e nem isso tem muito impacto sobre o roteiro ou demais personagens. O "chefe final" faz menos sentido ainda, tendo sua existência justificada para fins dramáticos porque o filme precisa terminar com uma crise emocionante. Mas já não bastam os diversos conflitos entre humanos e animais, inclusive internos?

Apesar de ainda recomendar Mononoke Hime à maioria das pessoas, gostaria de deixar registrada minha opinião para contrapor a unanimidade e oferecer uma visão alternativa, além de me possibilitar fazer comentários tão hilários que matam vinte espíritos de floresta por desgosto ao planeta toda vez que que são publicados.

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2 comentários:

  1. Valeu por mais uma participação Gabriel!!!

    Eu adorei Mononoke Hime,só queria mais do filme! E concordo que o Ashitaka não é tão interessante assim, Eboshi é bem mais! rs

    Bjs

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  2. Eae gabriel! Só passando para falar que eu li.
    Bom, concordo que o Ashitaka é o personagem mais sem graça da história, mas para mim ele não atrapalha como sendo um bom orelha (ainda bem que o nome do filme não tem relação com ele).
    Sobre a transformação do mestre javali, acredito que a transformação dele seja importante para mostrar que a luta entre os dois gerou apenas ódio e a transformação é a representação do início do ciclo.
    O texto ficou muito bom e muito engraçado, não tinha pensado em como era tosco algumas partes! (e incrível que esse foodfight é de 2012, jurava que era dos anos 90....)

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