14 de maio de 2013

Seirei Tsukai - Uma homenagem não muito lisonjeadora aos shounen da década de 90

Capa de Seirei Tsukai

Que tal uma viagem de nostalgia à década de 90 e seus animes shounen de ação? Uma era de glória, de discursos heroicos, de explosões coloridas, com tanta extravagância e pieguice que conseguia atingir níveis extremos de épico. Pois bem, hoje vamos expandir nossa visão (crítica) sobre isso com Seirei Tsukai.

Seirei Tsukai (ou Elementalors) é uma animação de 48 minutos lançada em 1995 que adapta o mangá de mesmo nome iniciado em 1990 por Okazaki Takeshi. Produzido pelo estúdio AIC, ele segue a jornada de Kagura, um garoto que se vê sozinho no mundo após uma tragédia familiar, contando apenas com o apoio de sua amiga Asami.

Um dia, a cidade é envolvida por uma batalha entre guerreiros chamados "Elementalors", e um deles captura Asami por algum motivo. Cabe agora a Kagura, que descobre também ser um "Elementalor" — e um particularmente poderoso —, salvá-la.

Kagura invocando os espíritos da natureza

Como se vê, o enredo é bem padrão: cara normal recebe o chamado à aventura para salvar uma amiga/interesse romântico e descobre-se que ele é uma espécie de escolhido que precisa deter o mal. A falta de originalidade não é um problema, até porque há algumas ideias bem interessantes, mas não há tempo o suficiente para realmente se importar com o que está acontecendo na tela.

É possível que a falta de envolvimento não seja devido ao enredo, mas aos personagens. Há vários exemplos de personagens na literatura, cinema e séries de TV que roubam os holofotes e carregam a trama por eles mesmos devido ao seu carisma, assim como outras obras investem no elenco de personagens como um todo, mostrando interações e relacionamentos significativos entre eles.

Similarmente, personagens ruins podem estragar toda a experiência.

Você provavelmente não vai odiar nenhum personagem, mas isso é só porque nenhum deles tem presença o suficiente para deixar uma impressão positiva ou negativa. São apenas atores cumprindo seus papéis no palco, figuras bidimensionais caminhando e se matando por aí.

Até dá para notar esforços para estabelecer o vilão como humano, tendo que enfrentar seus próprios dilemas e possuindo falhas e arrependimentos como qualquer um, mas novamente, simplesmente não há tempo para desenvolvê-lo muito além de um vilão genérico e fazer o espectador se importar com isso.

Um Elementalor de Seirei Tsukai

O protagonista é o maior prejudicado pela caracterização deficiente. Isso era para ser uma jornada de amadurecimento para Kagura, que precisa aprender a utilizar seu potencial e lidar com desafios difíceis. Seria adorável, se não fosse tomado tão literalmente: Kagura não apresenta sinais visíveis de ter realmente amadurecido ou se resolvido com seus problemas ao final, apenas tira da bunda um poder mágico que resolve tudo e salva o mundo.

E falando em final... eu não costumo revelar muita coisa sobre a conclusão de uma obra para não estragar a experiência, mas não preciso tomar esse cuidado no caso de Seirei Tsukai. Por quê? Porque não há conclusão alguma.

O filme termina em uma sequência extremamente anti-climática que não faz a menor questão de atar os nós soltos ou sugerir o que deve acontecer com os personagens após a aventura. Não dá nem para chamar de final aberto, pois a impressão que se tem é de que não deu tempo de incluir a última cena, então o filme decidiu antecipar a conclusão de algum modo. Enfim, é uma experiência incompleta.

Final de Seirei Tsukai

Cortando um pouco para os aspectos de produção, a animação em si não é ruim, embora obviamente obsoleta, e as cenas de ação possuem uma fluidez decente. Contudo, tudo parece muito sem graça. Você já viu os heróis genéricos e estereotipados que garotos desenham inspirados por anime/mangá? É exatamente assim o design dos personagens de Seirei Tsukai, o que contribui ainda mais para que o espectador os esqueça dentro de 48 horas após assistir o filme. Quanto à trilha sonora, fica no mais ou menos.

Calma que tem alguns pontos positivos sim. Apesar de tudo, Seirei Tsukai consegue não manter o espectador inteiramente entediado. Isso se deve a um sentimento de nostalgia que invoca a "criança" dentro de nós. Afinal, trata-se de uma aventura cheia de perigos, batalhas e habilidades fantásticas, como Dragon Ball, Yu Yu Hakusho, Cavaleiros do Zodíaco e outros clássicos do gênero.

Quanto às batalhas, um dos principais focos de atenção de Seirei Tsukai e animes shounen de ação, elas até são legais, mas nada memoráveis ou únicas. Vai ficar decepcionado se espera uma batalha no nível de Goku vs. Piccolo Jr. ou Yusuke vs. Toguro (até porque o aproveitamento de batalhas também é influenciado pelo carisma dos personagens, inexistente na obra).

Cena de batalha em Seirei Tsukai

É uma pena que as habilidades dos personagens não sejam aproveitadas ao seu pleno potencial, já que os Elementalors possuem domínio quase ilimitado sobre os elementos, que viram armas temíveis sobre seu controle. E o que eles fazem com isso? Arremessam coisas por aí, criam umas barreiras, e é basicamente isso.

Basta dar uma olhada em JoJo's Bizarre Adventure para saber que é possível ter batalhas emocionantes com habilidades simples, desde que sejam usadas de formas inteligentes. Ainda assim, se quiser ver guerreiros poderosos chutando a bunda um do outro sem compromisso, Seirei Tsukai não deve decepcionar muito.

No final das contas, a quem Seirei Tsukai é recomendável? De modo geral, fãs nostálgicos das séries de ação dos anos 90, e ainda assim com alguma cautela. Em última instância, contudo, Seirei Tsukai é apenas uma jornada superficial ao passado, utilizando fórmulas e receitas que deram certo sem pensar muito no porquê de terem funcionado, e portanto sem nada que o destaque em particular.

E aí, ainda vai dizer que está decepcionado com os animes moe genéricos atuais, dizendo que nenhum presta e no passado as coisas eram melhores? "Seirei Tsukais" da vida existem em todas as épocas, em todos os tipos de mídia, e as verdadeiras pérolas sempre foram poucas.

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