22 de janeiro de 2013

Joseph Murphy e o Novo Pensamento


Hoje vou falar um pouco sobre uma das principais obras de Joseph Murphy, "O Poder do Subconsciente". Além de uma análise literária propriamente dita, gostaria de fazer alguns comentários pertinentes acerca do conteúdo do livro e do Movimento Novo Pensamento de forma geral, porque acho que é uma discussão que vale a pena ser levantada.

Em "O Poder do Subconsciente", publicado originalmente em 1963, Joseph Murphy sintetiza seus postulados, experiências e conselhos envolvendo a influência da mente no mundo material. Mais especificamente, a parte da mente sobre a qual não temos controle direto: o subconsciente.

O autor começa expondo ideias da psicologia e psiquiatria sobre o cérebro humano, buscando embasá-las com fatos empíricos constatados por pesquisadores. Ao fazê-lo, ele mostra de que forma o subconsciente está diretamente ligado a fatores fisiológicos, possuindo portanto um enorme poder sobre o corpo.

Extrapolando esses conceitos, Murphy conclui que o subconsciente opera por mecanismos desconhecidos e de poderes ilimitados, capaz de transformar qualquer coisa em realidade. Logo, ter domínio sobre seu subconsciente, através de técnicas de sugestão, significa ter domínio sobre seu destino, e esse é o fundamento básico do resto da obra.

A partir de tudo isso, são expostos vários casos, relatos e sugestões relacionados a diversos aspectos da vida: dinheiro, sucesso, medo, vício, vida matrimonial etc. Isso permite que o leitor não precise ler tudo, podendo convenientemente selecionar o tópico que mais lhe interessa e tentar aplicar os ensinamentos.

Como livro de autoajuda/motivacional, "O Poder do Subconsciente" é razoável, sem fugir dos padrões do gênero: formula um princípio e passa o resto das páginas explicando tudo a partir dele ou fazendo reformulações. Aqui, o princípio é basicamente a lei da atração: pense coisas boas e coisas boas virão, pense coisas más e coisas más virão. Certamente algo útil para se levar durante a vida.

Claro, sempre tem alguns "poréns".

Uma ideia bastante persistente ao longo de toda a obra e do Movimento Novo Pensamento como um todo, do qual Murphy fazia parte, é de que se trata de algo científico, derivado da lei da causa e efeito e perfeitamente racional. Há inclusive um trecho que tenta explicar o que é ciência a fim de reforçar seu ponto de vista: "um corpo de conhecimentos coordenados, organizados e sistematizados"... Será mesmo?

De fato, essa é a concepção comum que se tem de ciência, mas o método científico moderno exige mais alguns requisitos. Para começar, toda teoria deve ser falseável, isso é, devem existir formas de mostrar que ela não é válida. Por exemplo, como falsear a teoria de que todas as flores têm 5 pétalas? Simples: encontre uma flor com menos ou mais pétalas.

Como você falseia a tal lei da atração? Você pode começar a orar para conseguir uma mansão, mas não há garantias de quando isso vai acontecer. Ao final de cinco anos sem nada acontecer, você pode concluir que a teoria é falsa? Não, pois talvez ainda não seja hora de receber sua mansão. Ou então se pode afirmar que os procedimentos não foram realizados de forma "certa", houve influência de pensamentos negativos etc.

Outro ponto: reprodutibilidade de experimentos. Se uma pessoa A consegue uma mansão em duas semanas, então uma pessoa B deve ser capaz de obter os mesmos resultados nas mesmas condições de A. Isso raramente acontece, principalmente porque é muito difícil simular as exatas mesmas condições da vida de uma pessoa.

Aliás, é justamente para se ter controle sobre as variáveis que experimentos são feitos em ambientes controlados, e não baseados em evidências anedóticas (o primo do bisavô do dono do cachorro que cruzou com a cadelinha do meu irmão disse que funcionou!).

Ok, não é científico, mas isso quer dizer que toda a teoria é errada e/ou não deve ser seguida? De maneira alguma, todo mundo é livre para acreditar no que quiser e eu realmente acho que algumas coisas podem ser aproveitadas. Só que o principal problema em divulgar uma ideia não científica como científica é induzir o outro a confiar nela como uma alternativa à ciência tradicional, o que já causou e continua causando problemas graves.

diversos e diversos e diversos relatos de negligência relacionados a motivos espirituais e/ou pseudocientíficos, como ciência cristã e homeopatia, principalmente por pais que se recusam a levar os filhos a tratamentos médicos. Deve ficar claro que esse tipo de cura não substitui consultas com profissionais da saúde

Por fim, fica aí um ótimo vídeo sobre o efeito placebo e o poder da sugestão:


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