Os tempos mudam, mas não tanto assim

Muito se discute a respeito das tendências trazidas pela dita "nova mídia", que se opõe às formas tradicionais de comunicação: blogs e periódicos online no lugar de jornais, e-books (livros digitais) contra livros de papel, enfim, o mundo virtual configurando o modo como nos comunicamos. Mas será mesmo que a "velha mídia" está ultrapassada e a "nova mídia" tomou seu lugar?

As observações cotidianas parecem apontar na direção de um futuro totalmente cibernético: jornais de grande circulação como a Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo disponibilizam a maioria de seus textos impressos em seus respectivos sites, que contam com equipes especializadas em web. E esta digitalização deve-se justamente ao número crescente de internautas no Brasil e no mundo.

O que geralmente não é discutido, mas oferece reflexões intrigantes, é o caminho inverso: autores digitais voltando-se ao meio analógico. Isto é bastante comum por parte de comediantes, como foi o caso de Randall Munroe, autor dos quadrinhos digitais xkcd que publicou um livro com tirinhas selecionadas.

Public opinion, por Randall Munroe (CC BY-NC 2.5)

O aparentemente estranho apego à mídia velha mostra, em primeiro lugar, que os meios tradicionais — livros, televisão etc. — estão longe de serem irrelevantes e poucos autores os veem como obsoletos. Em segundo, evidencia a fraqueza da internet como mídia independente.

Mesmo entre os blogueiros, é preciso ser "legitimado" pela mídia velha para ser verdadeiramente reconhecido como autoridade. Afinal, ninguém nega o grande alcance da televisão, rádio, revista etc. e o quão influentes podem ser.

Um argumento meio clichê, porém válido, é notar que nenhum meio de comunicação jamais substituiu outro; pelo contrário, os produtores de conteúdo sempre buscaram explorar todas as formas de atingir o público.

Seja produtores de cinema produzindo trailers para rádio e televisão, autores de livros divulgando suas obras em programas de entrevista ou, por que não, blogueiros escrevendo artigos para jornais, fato é que as relações entre os meios de comunicação seguem princípios de integração harmônica, não de independência.

Claro que não se pode simplesmente negar esta revolução da informação que estamos presenciando. Mesmo assim, ainda tem gente que insiste que pesquisa que se preze precisa, obrigatoriamente, passar por algum livro. Nada de e-book, livro físico mesmo.

Não importa se um autor de certo blog for um especialista reconhecido e dedicado no que faz e interessado em transmitir conhecimento, ele nunca será tão bom quanto um autor que escreve livros vazios, redundantes, sem conteúdo, com o único fim de promover a si próprio e satisfazer a editora.