By BenduKiwi (Unknown) [CC-BY-SA-3.0], via Wikimedia Commons. |
Precursor de vários temas na literatura de horror, fantasia e ficção científica, H. P. Lovecraft é reverenciado até hoje como o criador de um enorme e fantástico universo. Nele, a raça humana vive como uma existência insignificante, oprimida por perigos que nem mesmo é capaz de compreender e uma realidade muito além de seu alcance mortal. Atenda ao Chamado de Cthulhu para se aventurar nesse fascinante pesadelo.
Tudo começa quando o renomado pesquisador George Gammell Angell morre de forma súbita no inverno de 1926-27. Sem causas aparentes, os médicos apontam uma obscura lesão no coração como razão provável. O herdeiro, Francis Wayland Thurston, passa então a cuidar dos arquivos deixados pelo falecido.
À medida que investiga os documentos, Thurston sente-se cada vez mais interessado pelo misterioso "culto a Cthulhu" investigado por Angell, revelando histórias perturbadoras no processo. Mas o que parece ser mera investigação arqueológica torna-se uma viagem só de ida aos confins proibidos do universo...
O Chamado de Cthulhu é a primeira obra a apresentar o universo místico pelo qual Lovecraft é famoso, bem como sua deidade mais famosa: o polvo-dragão-humanoide Cthulhu. Paranoico e desconcertante, o conto viaja com o leitor através de lembranças surreais em um permanente sentimento de conspiração.
By Waerloeg (Own work) [CC-BY-3.0], via Wikimedia Commons |
Aí está a essência do terror lovecraftiano: o desconhecido, o que não pode ser conhecido, a sinistra verdade que permeia sutilmente nosso cotidiano. Mais assustador do que monstros grotescos é a percepção de não termos influência alguma sobre nossas próprias vidas, muito menos sobre o que acontece ao redor.
The most merciful thing in the world, I think, is the inability of the human mind to correlate all its contents. We live on a placid island of ignorance in the midst of black seas of infinity, and it was not meant that we should voyage far.
Uma característica do estilo narrativo de Lovecraft ressalta bem essa indiferença do universo em relação aos personagens: há muita pouca ênfase na ação e descrição das cenas. Ao invés disso, pinta-se um minucioso quadro geral a partir de relatos, fatos e eventos.
Como resultado, O Chamado de Cthulhu tem um estilo bem direto ao ponto que evita longas linhas de detalhes excessivos sobre o ambiente e psicológico dos personagens. Por outro lado, conta com uma prosa elegante com toques de expressões arcaicas — mas sem apelar ao rebuscamento desnecessário. Tudo isso colabora para a elaboração de um clima ideal de mistério e terror.
Um problema comum em tramas do tipo é a banalização do medo: ora, se o protagonista consegue meter bala nos monstros, o que há a temer? O Chamado de Cthulhu evita o dilema ignorando por completo o conflito. Não há luta entre bem e mal. A humanidade é apenas capaz de adiar o inevitável por acasos convenientes, e essa conclusão é a mais próxima de um "final feliz".
Para você que gosta de uma boa e velha trama de suspense ou é fã de universos grandiosos como o de Tolkien e seu Senhor dos Anéis, Lovecraft torna-se quase uma referência obrigatória. O Chamado de Cthulhu oferece uma rápida introdução à obra do grande escritor, marcada pela indiferença cósmica, conhecimentos proibidos, destinos inevitáveis e a miserável impotência do homem.
Who knows the end? What has risen may sink, and what has sunk may rise. Loathsomeness waits and dreams in the deep, and decay spreads over the tottering cities of men.
By Dominique Signoret (signodom.club.fr) [CC-BY-SA-3.0], via Wikimedia Commons. |
Sempre tive vontade de ler algo do Lovecraft. Uma vez peguei até um filme baseado em uma obra dele, mas não consegui ver porque a direção e produção estragou tudo. O que quero dizer é que sempre quis conhecer e absorver algo do Lovecraft. O seu terror psicológico é a melhor forma de terror que eu consigo imaginar. Como o Gabriel disse no artigo "...ora, se o protagonista consegue meter bala nos monstros, o que há a temer?"
ResponderExcluirOuvi bons comentários sobre um filme de 2005, mas não tenho muito ânimo para comprovar. Mas sempre recomendo a obra original também, mesmo com uma adaptação de primeira (o que é bem raro de qualquer forma).
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